MOBILIDADE URBANA
O trânsito paulistano é uma guerra em que morreram 1.365 pessoas em 2011; e não leva a lugar algum

BLITZE SE MULTIPLICAM PELAS RUAS DE SP
Nos últimos 12 meses foram abordados 14.887 veículos em blitze pelas ruas de São Paulo. Desses, 770 foram removidos.
Com o aperto da fiscalização sobre motoristas que ingerem álcool, mais de 6,4 mil testes de bafômetro foram realizados e 1.431 condutores foram autuados por embriaguez. A maioria das blitze se concentra nos finais de semana.
CAOS NO TRÂNSITO AFETA TRABALHO, SAÚDE E SEGURANÇA DO PAULISTANO
O trânsito é um dos maiores problemas da cidade de São Paulo e um dos assuntos mais discutidos nas eleições para a Prefeitura. Ele envolve muito mais do que carros parados querendo chegar em algum ponto da cidade. O trânsito mata. Acidentes envolvendo motos, carros e ônibus são computados todos os dias na metrópole. Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), em 2011 foram 1.365 mortos em acidentes de trânsito na capital, contra 1.301 vítimas de assassinato. Além dos acidentes existe o problema envolvendo o meio ambiente. Segundo a Cetesb, os veículos despejam todo ano 1,7 milhão de toneladas de substâncias nocivas na atmosfera.
"Assim como ocorreu nos últimos anos, as pessoas vão adaptar seus horários cada vez mais, para evitar os picos e priorizar viagens em horários alternativos, inclusive de noite. Só que em pouco tempo os congestionamentos ao longo do dia serão tão ruins como no rush"


"A ÚNICA ALTERNATIVA AO TRÂNSITO É DAR
PRIORIDADE AO TRANSPORTE COLETIVO"
Alencar Izidoro é pauteiro da editoria Poder, na Folha de S.Paulo,
e repórter especializado em mobilidade urbana no mesmo jornal.
1) Um dos principais problemas da cidade de São Paulo é o trânsito. Em sua opinião qual seria o primeiro passo para a melhoria desse trânsito e por quê.
Alencar Izidoro - A frota de veículos não para de crescer. Além de não ser sustentável, é impossível a ampliação do espaço viário num ritmo suficiente para receber a nova leva de carros. Seria necessário construir praticamente uma Avenida Paulista por semana só para enfileirá-los. A única alternativa, portanto, é dar prioridade ao transporte coletivo e restringir a utilização dos automóveis.
O primeiro passo, mais rápido, seria expandir corredores de ônibus. Para isso, é necessário retirar uma ou mais faixas dos carros. O primeiro impacto, claro, seria uma piora do trânsito de automóveis, mas não de pessoas.
Há também medidas pontuais que podem contribuir com a melhoria do trânsito (como semáforos inteligentes, punição mais severa a motoristas infratores, escalonamento de horários de entrada e saída do trabalho). E, no longo prazo, a medida mais eficaz é um novo planejamento urbano que encurte as distâncias e os deslocamentos.
2) Você acredita que o trânsito de São Paulo tem relação direta com outros problemas da cidade, como a segurança e o meio ambiente? Por quê?
Alencar Izidoro - Sim. Os congestionamentos agravam a poluição do ar. A própria prioridade ao carro, e não ao transporte coletivo, também é prejudicial ao meio ambiente. Ou seja, mesmo se não houvesse engarrafamentos, a utilização predominante do automóvel em detrimento do transporte coletivo (que transporta mais gente e polui menos) também teria impacto direto nisso.
3) Em sua opinião, como você vê o futuro de São Paulo em relação ao trânsito?
Alencar Izidoro - A frota de carros e motos não vai parar de crescer no curto prazo porque a própria elevação da renda e incentivos governamentais favorecem esse fenômeno. Como não é possível “enxugar gelo”, os congestionamentos vão piorar. Assim como ocorreu nos últimos anos, as pessoas vão adaptar seus horários cada vez mais, para evitar os picos e priorizar viagens em horários alternativos, inclusive de noite. Só que em pouco tempo os congestionamentos ao longo do dia serão tão ruins como no rush. Diante desse cenário, é bastante provável que sejam implantadas nos próximos anos novas restrições ao uso do carro (seja por ampliação do rodízio existente seja por pedágio urbano semelhante ao de Londres).
ENTREVISTA