MOBILIDADE URBANA
O trânsito paulistano é uma guerra em que morreram 1.365 pessoas em 2011; e não leva a lugar algum

Segundo a tabulação mais recente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em 2009, foram 1.382 mortos em acidentes de trânsito na capital contra 1.301 vítimas de assassinato. Além dos acidentes existe o problema envolvendo o meio ambiente. Segundo a Cetesb, os veículos despejam todo ano 1,7 milhão de toneladas de substâncias nocivas na atmosfera e são a principal fonte de poluição do ar. A segurança é outro ponto a relacionar com o trânsito da cidade. Quantos casos de assaltos em congestionamentos não são escutados diariamente?
A economia, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), também é afetada pelo trânsito. As perdas se dão na soma dos 27 bilhões de reais que deixamos de produzir enquanto ficamos parados com outros 6,5 bilhões que resultam do aumento de gastos com combustível, saúde pública e transporte de cargas.
O problema do transito em São Paulo já é antigo. No início do século XX, os carros ainda eram escassos, portanto não existia a preocupação com o trânsito. Na década de 1930, com o aumento de circulação de carros, foi preciso criar novas vias, como a Avenida Nove de Julho e Ibirapuera.
Tutty Vasques, colunista do jornal "O Estado de S.Paulo", em artigo de 21 de setembro de 2012
“Falta ainda comparar a velocidade do trânsito com a de um carrinho de bebê ou a de um bêbado voltando a pé da balada."
CIDADE REGISTRA UM CARRO
PARA CADA OITO HABITANTES
BRUNA REIS
RENATA KLIOT
O trânsito é um dos maiores problemas da cidade de São Paulo e um dos assuntos que devem ser mais discutidos, principalmente agora nas eleições para prefeitura. O trânsito na cidade de São Paulo envolve muito mais do que carros parados querendo chegar em algum ponto da cidade. Para começar, ele mata. Acidentes envolvendo motos, carros e ônibus são computados todos os dias.
Atualmente , segundo o site da CET e do Governo de São Paulo, o número de carro por habitante é 1 para 8 pessoas. Segundo o Detran, o número de carros da cidade, registrado em 2012, é de 5.283.095. No dia 1 de junho deste ano foi registrado o maior congestionamento da história da cidade de São Paulo. Por culpa da greve dos trens e Metrô da cidade as 10h, eram 249 km de lentidão, especialmente na Radial Leste (sentido Centro), Marginal Pinheiros (sentido Castello Branco) e na Marginal Tietê (sentido Castello Branco).
CRESCE FISCALIZAÇÃO DA LEI SECA COM BLITZE EM SÃO PAULO
BRUNA REIS
RENATA KLIOT
Nos últimos 12 meses foram abordados 14.887 veículos em blitze pelas ruas de São Paulo, sendo 770 removidos. Mais de 6,4 mil testes de bafômetro foram realizados e 1.431 condutores foram autuados por embriaguez. A maioria das blitze se concentram nos finais de semana, principalmente na saída de casas noturnas e bares.
Segundo o delegado Márcio Nilson, as blitze funcionam dessa forma: “nós fazemos um apanhado do que está ocorrendo em determinado local ou área, damos uma estudada no que vem ocorrendo lá. Assim, planejamos quais operações serão feitas e a que se destinam, se é repressão de bebida alcoólica ou evitar que o pessoal dirija alcoolizado, por exemplo”.
A diretora-geral do Detran, Sawana Carvalho, explica que a operação Álcool Zero é uma política de segurança do governo do Estado que tem o objetivo de salvar vidas no trânsito. No entanto, ela frisa que isso não quer dizer que todos estão proibidos de beber. “Quem quiser beber, pode. Apenas pedimos que ao fazer isso não tome posse da direção de algum veículo”, diz.
O cidadão tem outras opções para não pegar o carro: táxi, moto-táxi e também o amigo da vez, ou seja, aquele que não bebe e dirige para os amigos que estão consumindo álcool.
Como um dos objetivos da fiscalização é conscientizar, as blitze são anunciadas com o objetivo de informar ao motorista que se beber e for dirigir poderá ser flagrado. Em São Paulo, um perfil no Twitter (@leisecasp), que tem até aplicativo para baixar no celular, avisa onde estão as blitze da cidade. “Isso faz parte, a polícia não pode impedir as pessoas de se comunicarem”, conta o delegado. “As pessoas sempre tentaram arranjar um jeito de fugir das blitze, só que hoje isso ocorre nas redes sociais”, complementa.
Bafômetro
Os motoristas que se recusam a realizar o teste do bafômetro são levados por PMs até a delegacia mais próxima. Depois podem ser levados ao Instituto Médico Legal (IML), para um exame médico. “O efeito do álcool altera os neurotransmissores e no caso de um cidadão dirigir, seu reflexo é prejudicado tanto na resposta, deixando o motorista mais lento, como na qualidade, podendo o motorista acelerar ao invés de brecar”, explica o médico Ricardo Falzoni.
O fato de ter o direito de negar o teste pode criar uma sensação de impunidade ao motorista. E dependendo da quantidade de álcool ingerido, até realizar os testes no IML, o estado de embriaguez pode diminuir ou até mesmo passar. “A legislação constitucional brasileira deveria priorizar a segurança coletiva em vez da individual, de modo que todas as leis infraconstitucionais, referentes ao assunto, tenham o mesmo direcionamento”, diz o primeiro tenente Henrique Urbano Hanser Salles, do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran). Ele citou que em outros países obrigam a realização do teste do bafômetro sob penas administrativas, tendo como consequência multa alta e criminais em caso de desobediência.

FROTA DAS CAPITAIS QUASE DOBRA EM DEZ ANOS
RENATA KLIOT
Em apenas dez anos a frota das 12 principais capitais do Brasil praticamente dobrou, com um crescimento médio de 77% no número de veículos. Em São Paulo, entre 2001 e 2011 foram 3,4 milhões de carros a mais nas ruas. Cerca de 44% da frota nacional se concentra nas principais metrópoles.
Segundo uma pesquisa feita pelo Observatório das Metrópoles, que classifica o crescimento de frota de acordo com o crescimento relativo da população, São Paulo e Rio ficaram em últimos no ranking. O Rio de Janeiro apresenta um crescimento de 67%, tendo um acréscimo de 1 milhão de carros no período. Já São Paulo teve crescimento populacional de 7,9% da década, com o percentual de aumento de carros de 68,2%. Manaus apresenta a maior porcentagem. O aumento de frota foi de 141,9%, com mais 209 mil veículos na cidade.
As capitais não estavam preparadas para receber tantos carros a mais. Para especialistas e autoridades a causa para esse crescimento é o aumento da renda da população, reduções fiscais do governo federal e facilidades de crédito promovidas pelos bancos.
TRÂNSITO É REPROVADO POR 80% DOS PAULISTANOS, DIZ PESQUISA
RENATA KLIOT
Para 80% dos paulistanos o trânsito da cidade é ruim ou péssimo. Segundo pesquisa realizada pelo Ibope, o tempo médio de deslocamento diário na região sul, a mais engarrafada da cidade, é de 2 horas e 40 minutos, enquanto a média paulistana é de 2 horas e 23 minutos. Para 39% dos entrevistados que moram na região sul, esse é o maior problema da capital.
Em relação à construção e ampliação de ciclovias, 88% são a favor. Para aqueles que dirigem diariamente esse índice é de 91%. Dados apresentam que 41% dos entrevistados acreditam que a melhor solução é a ampliação de linhas de metrô e dos corredores de ônibus.
Caiu o número de pessoas que deixariam de usar o carro caso houvesse uma melhoria dos transportes públicos. Em 2011 o índice era de 82%, e hoje é de 65%. Porém a maioria dos cidadãos é contra o pedágio urbano e o aumento do rodízio de carros.