SEGURANÇA
HOMICÍDIOS E LATROCÍNIOS CRESCERAM
Mariana Consolmagno Bianca Fortunato
São Paulo é a quinta maior metrópole do mundo e a maior da América Latina. Por sua dimensão, a segurança pública é uma das maiores preocupações da cidade. Com altos índices de violência, a capital apresentou no ano passado quase 198 mil casos de furto, sendo 43 mil só de veículos - apesar de elevado, índice inferior aos casos deste ano.
Outros números que tornam a situação mais grave são os altos índices de lesões corporais dolosas, em que há intenção de ferir, e os 2.000 casos de estupro registrados em 2011.
As taxas de homicídio doloso, em que há intenção de matar, aumentaram de 257, no segundo trimestre de 2011, para 328, no mesmo período deste ano. Já os casos de latrocínio, roubo seguido de morte, aumentaram de 26 para 33.
Além disso, o número de mortes ocasionadas por policiais em flagrante preocupa. Segundo o Observatório das Violências Policiais de SP, o Ministério Público Federal quer entrar com uma ação civil pública pedindo o afastamento do comando da Polícia Militar alegando a perda do controle da situação, após a morte do publicitário Ricardo Prudente de Aquino, 39, em uma abordagem por policiais em Pinheiros, zona Sul de São Paulo, em maio passado.
Numa escalada de violência policial, no dia 11 de setembro deste ano, nove suspeitos morreram em um tiroteio com policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de policiamento ostensivo da capital, em Várzea Paulista (SP).
Abaixo, o gráfico mostra o consistente aumento das mortes causadas por fatores externos no Estado, de 2000 a 2010.

César Alves Ferragi, professor da ESPM, especialista em Segurança e Assessor Técnico da Secretaria Municipal de Segurança Urbana de SP.
violência policial e aumento de homicídios preocupam
César Alves Ferragi é professor da ESPM, especialista em Segurança e Assessor Técnico da Secretaria Municipal de Segurança Urbana da Prefeitura de São Paulo.
1) Qual visão você acha que os policiais passam para a sociedade?
Depende da pessoa que conhece o trabalho policial. Existem aqueles que conhecem in loco e aqueles que apenas conhecem através da mídia. Eu observo em comunidades carentes uma relação mais próxima das pessoas com o policial. A classe média, ao contrário, vê o policial como a mídia reporta.
A imagem do policial não é passada única e simplesmente pelo que ele faz no dia a dia. A mídia mostra a questão de truculência e do desvio de conduta. Portanto, a visão do policial na sociedade paulistana é muito relativa a quem você pergunta.
2) Você acha que a campanha de desarmamento de São Paulo tem o poder de diminuir a violência?
Com certeza. Uma população armada tem um vetor que potencializa os efeitos de qualquer conflito. No Brasil, o que mais mata hoje não é latrocínio, e sim conflito interpessoal. Por motivos banais tem-se matado muito.
Tem um estudo feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que fez uma correlação do número de vidas que foram salvas desde a publicação do estatuto do desarmamento, em 2003. Muitas armas foram recolhidas e, de acordo com o instituto, de cada 18 armas recolhidas uma vida é salva, portanto existe uma relação.
3) Os candidatos a prefeito deste ano estão dando a devida importância ao tema segurança em suas campanhas eleitorais?
César Alves Ferragi - O principal ator das eleições é o povo. Ele esta dando atenção à questão da segurança? Eu acho que sim. Agora, o modo como cada candidato coloca esse tema é questionável. Existem discursos de políticos que são mais militarizados e truculentos. São aquelas pessoas que querem uma guarda civil armada combatendo o crime, sendo que essa polícia tem que ser preventiva. Eu acho que é muito perigoso cair nesse debate populista e antigo de querer aumentar o número de patrulhas. É necessário ir pelo viés da articulação comunitária e da relação com outros órgãos da prefeitura e do Estado.
Segurança pública não é um problema só de polícia, ele tem que ser debatido também pelo município e pelas demais esferas. Eu gostaria de ver esse tema muito mais discutido nas campanhas eleitorais. Para mim, o debate no Brasil em segurança pública ainda está raso e merece uma atenção mais devida.
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Debate sobre o tema está superficial, diz especialista
Bianca Fortunato
Mariana Consolmagno
Bruno Gegório
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, 45% da população considera a segurança pública como o maior problema a ser enfrentado pelos candidatos nas eleições deste ano, atrás apenas de saúde. No entanto, os candidatos à prefeitura de São Paulo não têm abordado o tema com o destaque merecido.
Nas campanhas eleitorais, o candidato Fernando Haddad, do PT, promete criar bases móveis da GCM com videomonitoramento. O tucano José Serra tem como objetivo a ampliação da Operação Delgada e dos investimentos na Guarda Civil Metropolitana, enquanto Soninha Francine, do PPS, diz querer retirar da Guarda Civil Metropolitana a responsabilidade de fiscalizar ambulantes. Por outro lado, Celso Russomanno, do PRB, deseja ampliar a parceria da prefeitura com o governo do Estado e as polícias Civil e Militar, além de armar a Guarda Metropolitana.
No debate sobre Segurança Pública, realizado na última segunda-feira, 24, pela ESPM, que integrou a primeira Jornada de Jornalismo do curso de Jornalismo da faculdade, Cláudio Junqueira, repórter da Rádio Bandeirantes, Marcos Alves, repórter fotográfico do Jornal O Globo e o especialista em segurança e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, César Alves Ferragi, abordaram o assunto.
Para Ferragi, as recentes campanhas eleitorais não demonstram o interesse necessário em segurança. Ele afirmou que seria necessário iluminar e equipar a Guarda Metropolitana e não armá-la, como o proposto por Celso Russomanno.
Sobre as ações de desintegração da Cracolândia, por exemplo, o policial é visto como uma máquina, mas sofre muita pressão psíquica. “A responsabilidade que é dada ao policial não condiz com o treinamento que lhe é dado”, segundo Ferragi. Para ele, é necessário um trabalho a ser feito em rede integrada, e não apenas através da segurança pública. “Se foi certo ou errado, eu não sou especialista pra dizer, mas se esperou tempo demais para se fazer alguma coisa, foram 10 anos pra colocar o dedo na ferida que era a Cracolândia.”, reiterou Cláudio Junqueira, repórter fotográfico do Jornal O Globo.
Em relação à Copa do Mundo, que será sediada no Brasil em 2014, Cláudio disse que a segurança é um assunto preocupante, já que não se nota muitos investimentos nessa área, ao contrário do problema de transporte. César afirmou que seriam necessárias consultorias que facilitassem a comunicação entre os tipos de polícia.

“Eu acho que é muito perigoso cair nesse debate populista e antigo de querer aumentar o número de patrulhas. É necessário ir pelo viés da articulação comunitária”
